O jornal "Folha de São Paulo" publicou um artigo, no qual aborda a expressão "Terceira Pele" para identificar a moradia do ser humano. Ou seja: nós teríamos, na verdade, segundo aquela matéria, 3 (três) "camadas de pele":
A abordagem é extremamente interessante e oportuna, permitindo fazer algumas considerações sobre características e desempenhos das "cascas" que nos envolvem:
O exame, ao microscópio , permite ver que nossa pele , orgânica , é muito mais porosa, fissurada ou "esburacada" do que pode parecer ao olho nu. Pelas mesmas fendas que expulsam o suor (expelindo toxinas e contribuindo para o equilíbrio térmico do corpo), podem penetrar cremes hidratantes, pomadas medicinais, variadas impurezas, bactérias, fungos, ácaros e diversos produtos tóxicos. Para se ter uma idéia da vulnerabilidade dessa "casca" , basta a terrível informação sobre o gás dos nervos " VX ", sintetizado pelos norte-americanos a partir de 1952, que age sobre os neuro-transmissores do nosso sistema nervoso central: bastam 1/30 avos de um milésimo de grama, absorvidos pela pele, para matar um ser humano (se a vítima "tiver sorte", a agonia durará apenas poucos minutos, passando por suor abundante, tonteiras, vômitos, perturbações da visão, fezes e urina expelidas descontroladamente, rigidez muscular e asfixia final). Se é apavorante imaginar centenas de toneladas de tal substância armazenadas em depósitos militares, deveríamos atentar, também, para os perigos, menores, que rondam a nossa "embalagem" corporal e que podem, no longo prazo, provocar sérios danos a nossa saúde: não costumamos dar a devida importância às composições de pomadas, cremes, sabonetes, shampoos, desodorantes, tinturas capilares, detergentes e sabões; nem nos lembramos de que já é comum a "injeção", de hormônios e vitaminas, através da pele, por meio de discos adesivos ou gelatinas. Tampouco damos a devida atenção ao correto manuseio de desinfetantes, limpantes e inseticidas(lembre-se que o gás dos nervos "Tabun", de Hitler, foi desenvolvido, em 1936, a partir de um simples inseticida!!..) . Assim, preferimos achar que não existem riscos e que "apenas os alérgicos" são sensíveis aos eventuais efeitos tóxicos desses produtos ; nós, os chamados "normais", temos corpos saudáveis e "somos imunes". Ledo e ivo engano, como diria o cronista Carlos Heitor Cony...
As roupas, de um modo geral, formam nossa "Segunda Pele". Incluem-se, aqui, tanto calçados e roupas diurnas como as chamadas roupas de cama (pijamas, camisolas, lençóis e cobertores); sem esquecer as toalhas e lenços, que esfregamos no corpo e no rosto. Resíduos químicos de sabões, amaciantes e limpantes(tecidos mal enxaguados), assim como fungos e ácaros(colchões, interiores de sapatos ou tênis, armários mal ventilados e divisórias ocas - tipo "drywall" - são perfeitos refúgios e meios de reprodução), acabam depositados e alojados nas fendas da pele e podem provocar, no longo prazo, importantes danos a saúde. Assim, todas essas "coberturas provisórias", do corpo, deveriam merecer atenção e cuidado muito especiais. Cá entre nós: existe coisa mais "besta" do que secar os pés, após um caprichado banho, e enfiá-los no sapato de véspera (de couro, ou lona, escuro e umedecido pelo suor), em cujo interior as colônias de fungos cresceram, explosivamente, durante a noite??...
Nossa casa (ou apartamento) acaba desempenhando a função de "Terceira Pele". De fato, com a finalidade de "deixar lá fora" a chuva, o vento, as temperaturas extremas e a insolação excessiva , a moradia será a nossa "terceira casca". Mas estará ela cumprindo, integralmente, essa missão ? Experimente reunir a família e ler em voz alta:
As presentes reflexões, paralelos e ironias, talvez possam servir para que os proprietários e administradores(principalmente em edifícios altos) adotem uma postura mais cuidadosa e prudente, pois estamos abordando algo que vai muito alem da simples conservação do patrimônio físico. Caso contrário, as "broncas indignadas", por infiltrações pluviais, continuarão esquecendo os seres humanos e se concentrando, apenas, nos eventuais pingos que caem, dos tetos das garagens, sobre reluzentes e indefesos capôs de automóveis...
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