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A engenharia vai à praia

Arquitetura

Localizado em uma Área de Proteção Ambiental (APA) numa região designada pelo governo estadual para desenvolvimento turístico intensivo – denominada Zona de Turismo Especial (ZTE) –, o projeto pautou-se pela menor supressão de vegetação possível. Por essa razão, os hotéis e demais edificações foram posicionados em clarões formados pelos bancos de areia. Os arquitetos procuraram implantar os hotéis na forma de "U" voltado para o mar, de forma que os acessos fossem feitos pelo lado oposto. O core externo assim criado procura promover a integração com o paisagismo, além de concentrar os bares, piscinas e outros serviços de lazer.

O gabarito máximo de quatro pavimentos para as edificações foi definido tomando como referência a altura máxima da copa dos coqueiros, elemento de maior presença no cordão litorâneo de Sauípe. Nesta fase, foram catalogados 2.374 coqueiros, o que reafirmou a necessidade de uma atenção especial com a implantação das edificações. Para cada coqueiro suprimido, foram plantados dois. Seguindo esta referência, os blocos de apartamentos dos hotéis foram implantados quase na cota natural do terreno. Em contrapartida, todos os acessos dos hóspedes (lobbies) sofreram uma pequena elevação para privilegiar a visão do oceano. As áreas de serviço e apoio hoteleiro, por sua vez, foram colocados abaixo dos lobbies, para evitar o cruzamento dos setores. "Desde o estudo preliminar, passando pelo anteprojeto, projeto básico e executivo, foram produzidas 15.932 pranchas de desenhos, entre projetos arquitetônicos, estruturais e de instalações e sistemas", comenta Marques.

Os acabamentos procuraram tirar partido do revestimento cerâmico para criar uma identidade com os mosaicos e ladrilhos hidráulicos e materiais da época. Em toda a obra foram utilizados pisos Portobello com PEI 4 e 5, inclusive nos quartos. Para pintura, foram empregadas tintas foscas em tons pastéis com bases acrílicas, às vezes texturizadas, na região dos lobbies. O madeiramento da cobertura, por sua vez, busca reproduzir o estilo imponente do casario colonial e das fazendas de cana-de-açúcar, exigindo um projeto rigoroso devido às enormes proporções.

PVC

O Sauípe destaca-se também pelo emprego maciço do PVC. Entre vários recordes, o complexo atingiu a marca de 2 mil esquadrias de PVC, totalizando 9 mil m2 instalados. Esta é a primeira grande obra a empregar as esquadrias da Tigre, cuja produção teve início em dezembro do ano passado. São portasbalcões que se incluem na classe denominada "melhorada", de acordo com os critérios da norma EB-1968 (Caixilhos para Edificação – Janelas) para edificações de até quatro pavimentos ou 12 m. Submetidas a ensaios de deformação e estanqueidade ao ar para regiões de classe I sob pressão de vento de 650 Pa, as esquadrias superaram as expectativas de desempenho. A deformação máxima dos elementos mais solicitados nos ensaios de protótipo foi de 11 mm, ou seja, inferior à deformação admissível de 12 mm.

Soluções anti-estresse

Para que tudo isso fosse possível e atendesse às rigorosas exigências ambientais, foi necessário um cuidado muito especial até com a própria instalação do canteiro. O plano diretor, que contempla toda a fazenda e as futuras ampliações, procurou estabelecer um sistema viário definitivo. As vias de tráfego da obra obedecem e coincidem com os mesmos traçados do plano diretor, prescindindo de novas intervenções de supressão de vegetação. Dessa forma, garantiu-se a remoção e replantio das espécies em locais definitivos. Bromélias, cabeças-de-frade, orquídeas e outras espécies foram retiradas dos traçados e encaminhadas para o viveiro para, em seguida, serem replantadas.

Um canteiro dirigente com 1,2 mil m2 foi construído na área onde ficará o futuro hotel HL1. Devido à distância dos grandes centros, o projeto do canteiro procurou suprir todas as necessidades dos operários, como serviços bancários, comunicação, centro médico, refeitório e área de entretenimento. As divisões administrativas e de projetos estão organizadas de forma a estimular os funcionários a circularem pelo canteiro dirigente, com a criação de alamedas entre os diversos blocos, contemplados também com um projeto paisagístico usando espécies da flora local. Marques explica que a solução visou evitar o confinamento dos funcionários e estimulá-los a se deslocarem entre as alamedas. "Por estarmos em uma área isolada, o estresse passa a ser uma preocupação", diz Marques. "Se o funcionário quiser ficar enclausurado, é por opção."

Serviços preliminares

Para o levantamento topográfico da fazenda foram instalados 26 marcos, três via satélite, que permitem estabelecer a localização geográfica e geodésica de qualquer ponto da fazenda. Dessa forma foi possível observar, com precisão, a área de laudênio da marinha, que prevê um afastamento de 60 m da preamar máxima. Os trabalhos foram precedidos pelo mapeamento metro a metro de toda a flora, em um trabalho que demandou três anos (veja box).

Os hotéis foram posicionados estrategicamente em clarões, preservando as áreas de maior patrimônio ambiental, como o cordão litorâneo e alagados, de acordo com os limites e recuos estabelecidos pelas normas ambientais. "Para evitar riscos de contaminação dos corpos d'água e lençol freático, 26 estações são monitoradas mensalmente em toda a fazenda", diz Cássio de Oliveira Filho, responsável pelo programa de instalações. Foram instalados também 60 banheiros químicos e fossas herméticas provisórias. O esgoto é bombeado diariamente e transportado em caminhões limpa-fossas para o emissário de Arembepe. O abastecimento de água para serviços é provido por nove poços artesianos. As refeições são produzidas em uma cozinha industrial no canteiro, que no auge das obras chegou a processar 8 mil refeições por dia.

O abastecimento elétrico do canteiro demandou a construção de uma rede em 13,8 kV com 25 km de extensão a partir de Itanagra, com potência de 2.000 kVA. Uma estação de rádio de 30 canais faz ligação com a Praia do Forte para transmissão de voz e dados. O canteiro também é dotado de um conjunto de geradores, dois móveis e quatro estacionários.

Publicação da Revista Téchne nº42

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